Me sinto como num caminho sem fim, sem paradas pra descansar, nem causos
pra contar.
Me sinto cansado desta estrada, aqui tudo parece que é morto e solitário, não
tem cor, não tem barulho, é tudo meio que morno.
Parece até que os viajantes, vendo a tristeza do lugar, não param muito tempo,
nem apeiam e nem pernoitam.
De cima do meu cavalo, perguntei ao velho na varanda de uma casinha simples,
por que, daquele lugar ser aquela desgraceira toda.
Tudo era cinza, meio russo, não tinha uma flor colorindo os campos, o povo triste e
carrancudo
O velho me olhou ressabiado, com má vontade me falou que ali não era assim, era
muito diferente, não faz nem um ano o povo sorria e mostrava os dentes.
Que nos campos tinham tanta flor, que o cheiro de perfume era tão forte que chegava
até a sufocar.
Era tudo verdinho, dava pra sentir de longe a maciez do capim, os bichos tudo gordinho.
De manhãzinha os passarinhos deixavam o povo doido de tanto barulho e cantoria.
Que aquele lugar era abençoado, tinha uma menina que era santa, nascida no mato, amiga
de tudo quanto era bicho, ajudava os véio, os passarinhos andavam assentados no seu ombrinho.
Fazia remédio pros doentes e plantava flor na beira da estrada.
Educada e prestativa, a menina era adorada por toda a vila, nunca se viu por aqui criatura tão
divina.
Mas, um dia bem cedinho chegou do norte um povo esquisito e bruto, com o gado erado, guiado
no berrante e tratado no chicote.
O peão mais novo, de primeira comitiva, quis fazer uma graça ao chegar no vilarejo, esquecendo
da boiada, e tiro pra cima foi metendo, a boiada estourou, levando no peito tudo em seu caminho.
Na ponta dos cascos, tudo que era vivo foi se acabando.
Foi então que a menina santa, pra salvar um cachorrinho, pulou na frente da boiada, coitadinha, foi
seu último ato de bondade.
Depois que a boiada passou, estavam ela e o cachorrinho mortos, os dois abraçadinhos.
Não teve uma pessoa daqui que não foi no velório, na missa e no enterro da menina santa.
Foi tudo muito triste, de cortar o coração. Até hoje o povo chora e reza pra ela com emoção.
Ficamos sabendo que até a boiada minguou e sumiu pelo caminho, nunca chegando na fazenda.
Esse lugar como o senhor está vendo, também se acabou, toda vida, toda alegria foi embora
com a morte da menina.
Eu, de cima do cavalo, com lágrimas escorrendo pelo rosto, perguntei ao véio: me diga uma
coisa, qual o nome dessa menina?
O véio também chorando, respondeu: amor, o nome dela era amor!
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