domingo, 27 de dezembro de 2020

Overdose.

 Tudo parece torto.

Cheguei no último barco.

Talvez devesse ter ficado onde estava e lutado até o fim por 

uma causa perdida.

Mas, pensamentos infames invadiram minha mente e dominaram

meu coração, e eu corri o mais que pude.

Um destino inglório; desapareceria anonimamente deste mundo.

Não foi isso que me prometeram.

E eu fugi.

Sei que estou andando numa praia, mas não sinto a areia nem o cheiro do mar.

A  neblina densa confunde meus sentidos e eu me perco de tudo.

Às vezes tenho vagas lembranças de braços estendidos em minha direção.

Sim, eu já tive alguém.

Pais talvez, ou uma namorada, ou uma amiga, quem pode saber?

Este lugar que estou agora é mais a minha cara, todos são como eu.

Mas como cheguei até aqui?

O mar foi embora com a neblina e a areia se transformou em concreto.

Pessoas vão e vem, circulam sem destino.

Eu estou fazendo o mesmo.

Estou com fome, preciso muito das minhas coisas.

Alguém me ajude, estou desesperado!

Faço como os outros para conseguir o que quero.

Não é legal, mas quem se importa, desde que eu consiga o que quero.

Hoje tirei a sorte grande, consegui muita coisa!

Estou eufórico.

A fome se foi.

A dor se foi.

A luz vai sumindo bem devagarinho.

Acho que vou descansar um pouco agora.

Talvez eu finalmente durma!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Procurando Deus.

Por muito tempo em minha vida me perguntei, cadê Deus?

Fui à igrejas, templos, locais de fé.

 Conversei com padres, pastores, pessoas ligadas a religiões.

Mas, nada acontecia, nada me sensibilizava, estava cada vez mais cético

com minha busca.

A literatura me deixou mais cético ainda.

Um dia estava num lugar muito bonito, mas com o espirito triste, me

sentia deprimido.

Uma brisa mansa, fresca, passou por mim entrando não só pelas narinas, mas

por todos os meus poros.

Me senti muito lúcido e tive a impressão de ter alguém ali, do meu lado.

Não consegui me virar para olhar.

Nem precisei.

Lembrei de quando minha mãe me dizia: tome cuidado! Deus estava ali.

Do olhar de meus filhos: Deus estava ali.

Do abraço de um amigo querido: Deus também estava ali.

Por fim me veio a mente um trecho da bíblia que já tinha até esquecido.

O reino de Deus está dentro de ti e a tua volta; não em palácios de pedra

ou madeiras,

Rache uma lasca de madeira e Eu estarei lá; levante uma pedra e Me encontrarás...

Eu só não havia procurado dentro de mim mesmo.

Ele sempre esteve lá!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

É Natal.

Queria ter nascido velho.

Teria sofrido menos. 

Teria amado muito mais.

Declame um poema para mim, que seja um dos meus.

Toda uma vida passada em um segundo, é muito tempo.

Cante uma música para mim, também das minhas.

Pois, sentirei saudades e ficarei triste e alegre ao mesmo tempo.

Mostre-me uma pintura minha, para eu lembrar o quanto excêntrico sou.

As pedras atrás de mim já estão muito gastas, não me siga para não cair em si mesmo.

Apenas voe sobre elas e siga seu próprio caminho.

Todos nós temos um.

Não sei se já sou um velho, ou um garoto que começa a ver sentido nas coisas.

Não importa.

O barco segue devagar no caminho traçado pelas estrelas.

Talvez eu ande sobre as águas ou pelo espaço, quem sabe?

Tudo é novidade, mas é aquela novidade de quando se é criança com cheiro

gravado na memória e tudo mais!

Sinto voltar em mim a euforia juvenil.

E pensar no quanto já vivi.

Nunca será mais a mesma coisa, e dai!

As flores que já estavam mortas no vaso murcharam e ficaram feias.

Amanhã colocarei novas flores mortas no mesmo vaso.

Tudo se repete sempre.

Tudo acontece conforme o que foi combinado previamente.

Não desta vez.

Alguém fugiu.

E uma criança chora no final da rua.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Doce Colina.

Sempre fomos enganados por promessas que não se cumpriram.

A vida, às vezes é só uma velha mentirosa.

Onde estamos agora?

Pra onde vamos se os sonhos acabarem?

Só queria sobreviver para ver tudo verde novamente enquanto o cinza se desfaz.

Meus passos são incertos.

Mostra-me o caminho seguro por entre os perigos das pedras, das pessoas.

Eu sou a terra que enxugará esse mar de lágrimas.

Serei sal?

Queria ser as delicadas e constantes brumas que emanam da minha verdejante

Doce Colina.

A neblina mágica que esconde a floresta e o vale, até que o sol venha para mostrar

toda a verdade, linda verdade.

Serei o último Caminhante Branco a encontrar o seu lugar?

Não terei como voltar depois de tirar minha máscara!

Talvez a comunhão com o novo lar me transforme em outro ser?

Ou talvez eu já seja outra pessoa há muito tempo.

Quero viver para sempre nesse novo lar fluido, leve com sons maravilhosos.

Aqui a vida explode de todas as maneiras em todos os lugares, a terra é fértil e 

rica, a água doce e pura, o céu de um forte tom de azul, que brinco comigo mesmo

imaginando figuras de fadas com as nuvens branquinhas.

No entardecer, bandos de pássaros passam a minha altura indo se recolher

e no céu carmesim se mesclarão com suas cores vivas formando o mosaico

perfeito para o final de tarde.

Contarei histórias sob as estrelas na noite nua e serei feliz, e talvez mais feliz

quando tiver de me juntar à elas no espaço sem fim.

Quando eu acender as grandes fogueiras no inverno, seres ancestrais dançarão sobre 

as brasas e mostrarão varias de suas formas em minha homenagem dando-me boas vindas

porque o lar dos antigos Caminhantes já me aceitou há muito tempo.

E quando chegar o Solstício de Verão, minha simbiose estará completa e serei como os

antigos Caminhantes, parte imortal de tudo isso aqui!