Tudo parece torto.
Cheguei no último barco.
Talvez devesse ter ficado onde estava e lutado até o fim por
uma causa perdida.
Mas, pensamentos infames invadiram minha mente e dominaram
meu coração, e eu corri o mais que pude.
Um destino inglório; desapareceria anonimamente deste mundo.
Não foi isso que me prometeram.
E eu fugi.
Sei que estou andando numa praia, mas não sinto a areia nem o cheiro do mar.
A neblina densa confunde meus sentidos e eu me perco de tudo.
Às vezes tenho vagas lembranças de braços estendidos em minha direção.
Sim, eu já tive alguém.
Pais talvez, ou uma namorada, ou uma amiga, quem pode saber?
Este lugar que estou agora é mais a minha cara, todos são como eu.
Mas como cheguei até aqui?
O mar foi embora com a neblina e a areia se transformou em concreto.
Pessoas vão e vem, circulam sem destino.
Eu estou fazendo o mesmo.
Estou com fome, preciso muito das minhas coisas.
Alguém me ajude, estou desesperado!
Faço como os outros para conseguir o que quero.
Não é legal, mas quem se importa, desde que eu consiga o que quero.
Hoje tirei a sorte grande, consegui muita coisa!
Estou eufórico.
A fome se foi.
A dor se foi.
A luz vai sumindo bem devagarinho.
Acho que vou descansar um pouco agora.
Talvez eu finalmente durma!