Hoje, quando fui pegar a correspondência na caixa de correio, por
uma fresta do portão, eu vi um homem que caminhava com muita dificuldade.
Ele andava devagar e mancava da perna esquerda, seus passos eram lentos e sofridos,
muito sofridos!
Via-se a dor do esforço em seu semblante; achou um cabo de vassoura encostado
no muro e fez dele sua bengala, uma pequena ajuda para uma ação tão dolorosa.
O homem, com certeza um mendigo, vestia uma blusa de capuz bem surrada, calça e
sapatos velhos rasgados, trazia também uma bolsa a tiracolo.
Um rosto sulcado e queimado num corpo magro que caminhava pela calçada, ele não
podia me ver de onde eu estava, mas eu tentava decifrá-lo.
O tempo estava ruim e começou a chover, fiquei feliz por logo a sua frente existir um
toldo de uma loja fechada, poderia se esconder da chuva e não seria incomodado.
Mas, para meu espanto, ele simplesmente deu uma olhada para cima, como se para confirmar
que estava chovendo, não tinha raiva em seu olhar, nem medo, nem nada!
Ele só olhou, e continuou a andar.
Mesmo sabendo que não tinha para onde ir, que não teria um banho quente, nem roupas limpas
e secas, que a chuva fria só pioraria suas dores e reumatismos, ele passou pelo abrigo como se
ele não existisse.
A expressão do seu rosto me dizia que aquilo não era nada, que ele estava em outro lugar, que seu
mundo não era aqui, ele não tinha medo da chuva, nem das dores, nem de nada.
Tive vontade de ir atrás dele e lhe fazer perguntas sobre tudo, mas logo percebi que eu não
teria capacidade de compreendê-lo, pois ele não tinha medo da chuva.
Aprendemos coisas novas o tempo todo, com pessoas, com a própria natureza, mesmo assim
ainda somos apenas como crianças no nosso universo e há um outro universo de coisas ocultas
aos nossos olhos.
Ainda prefiro só imaginar;
Quem seria este homem?
Será que tem família?
Tem algum dom especial?
É um bruxo?
Um Santo?
Ou seria apenas mais um homem?
Talvez eu esteja errado e ele tenha um lugar para ir, talvez ele esteja indo para minha imaginária
Cidade Das Nuvens, lá com certeza terá abrigo e tudo que precisar, e eu poderei falar com ele, pois
seremos iguais, e não teremos medo da chuva!
Nenhum comentário:
Postar um comentário