domingo, 22 de novembro de 2020

Elementais.

O que me alegra é plantar, ver brotar, crescer, frutificar.
Da eclosão do ovo, nasce o filhote do canário que fez o ninho
no beiral da casa.
Flores que nascem e desabrocham por toda parte, no mato no jardim, no vaso.
A festa que meus cães fazem comigo por qualquer coisa, a confiança o carinho
deles por mim.
Os bichos que aparecem de repente em casa por não entenderem o que eu estou
fazendo ali, na sua casa.
Lugar agora onde coisas do homem acontecem. 
Coisas inexplicáveis acontecem. 
Coisas de Deus sempre aconteceram.
Fiz daqui também meu lugar, peço licença, vou ficar!
Não atrapalho fico quietinho no meu canto, em troca plantei frutos para todos
nós, a terra me sorri, pois eu a amo.
Também tem quirera, alpiste e painço para os pássaros.
Para os tatus, pacas e capivaras, tem mandioca, milho e cana.
Se aparecer um Lobo-guará, lá se foi uns frangos, mas é assim mesmo, a natureza
nunca peca em seu ciclo.
O dia é intenso, pois o trabalho que eu vejo como diversão não termina nunca.
Coisas que faço, coisas que invento, tenho que rir de mim mesmo o dia inteiro.
Finalmente estou me divertindo, fazendo o que sempre quis, o que gosto.
E eu nem usei ainda meu detector de metais para procurar os tesouros do meu bisavô.
Mas, já observei a chuva, a neblina subindo das montanhas! Um dia vi um arco-íris por inteiro
de ponta à ponta nas montanhas, foi lindo.
Ver o sol da manhã refletir no riacho lá embaixo no vale, enquanto as vacas pastam, o
canto das seriemas em algum lugar na mata.
As noites são de alegrias, de fogueiras, de cometas e coisas que não sei explicar.
São tantas coisas que estou revivendo novamente, que minha mente ferve nesse corpinho
já castigado pela vida.
O tempo já não importa, apenas paro e observo a planta crescer, o bicho nascer e a vida
começa a fazer sentido.
Só peço a Deus, um pouco mais de tempo, agora que cheguei até aqui.
Um pouco mais de saúde, para poder continuar me divertindo com meu trabalho.
E muito amor pelo meu novo mundo elementar, tão necessário a todos os seres que o procuram.
Não sei se estou na palma da mão de algum ser mágico, só sei que estou feliz, e danço, danço...

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O homem foguete.

Me sinto como um foguete que vai deixando seus estágios para trás.

Estou apenas subindo enquanto meu tamanho diminui, minha carga fica

mais leve, minhas preocupações vão dando lugar a outras coisas.

Será que eu apaguei o fogo do arroz?

Que importância tem isso agora, eu não estou mais lá!

Aquela conta vencia hoje! 

Também não sei como irão receber.

Eu que era tão preocupado com tudo, a torneira pingando, as luzes acessas sem

necessidade, o que farão sem mim?

Tudo!

E talvez melhor.

Vão sentir saudades?

Sim, alguns.

Estou divagando com perguntas e respostas, amo todos que ficaram, gostaria 

de ter dito isso com mais frequência a todos eles, que pena!

Espero não ter deixado ninguém magoado comigo, se deixei não tenho mais

como reparar isso ou pedir desculpas.

Estou me vendo por inteiro agora no meu longo caminho de vida.

Coisinhas que pareciam tão pequenas, tão sem importância naquela época, 

agora são tudo que eu queria ter feito, queria ter dito, queria ter vivido.

Esse talvez seja meu último peso imaginário que ainda sinto no coração, 

aquela dorzinha que parece ter vida própria.

Enfim, o que ficou para trás, bom ou ruim, agora é irreparável, já passou.

A vida nos dá todas as oportunidades de fazermos o que quisermos sempre, 

se fazemos o certo ou o errado, é problema nosso.

Só mesmo num momento como esse, de expiação, é que você mesmo se cobra,

você mesmo é o seu juiz.

Nem tudo que você se lembra foi legal ou bom.

Não me sinto muito bem por isso, mas fazer o que! 

Teve muita coisa boa também.

Momentos lindos.

Estou chegando no meu último estágio, acho que faz parte do processo

perder a consciência agora, não importa para onde eu vá, aprendi que as

mínimas gentilezas, os pequenos gestos, sempre importam.

Espero me lembrar de usá-los, adeus!