segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Elos.

Por que as pessoas se separam?

Porque elas pensam?

Esta noite não quero pensar.

Quero ser eu mesmo de uma outra maneira.

Meus olhos se firmam e miram o corredor estreito.

O copo de vidro cai de minha mão, se espatifando no chão.

O mundo é feito de cacos.

O mundo é vermelho.

Minha vida é como um vinho, que corre, escorre e se perde.

Com as mãos sigo as paredes já gastas e percorridas por outras mãos.

Elas estão sujas e apenas se trocam por outra vida.

Não sou cego, mas as paredes me sufocam.

Me ajude a levantar, caso eu caia.

Rodas de conversa não resolvem nada, só me levam e não me trazem.

Raios de sol obliquamente refletidos limpam a passagem, pulverizando uma horda

inteira de fantasmas do passado.

Quero ser crente em ti.

Quero ser seu caminho, sua volta, ida.

Quero ser você livre, eu também, eu também...

Por que as pessoas ficam juntas?

Muito provavelmente por amor!

sábado, 22 de agosto de 2020

Fehu

Tão improváveis expectativas de que coisas mágicas aconteçam

no meu dia.

Queria tanto que algumas das coisas que eu fazia voltassem e outras

desaparecessem para sempre.

Já não nos fazem mais orações, nem trazem oferendas.

O último andar da torre sempre fechado para os olhos das pessoas comuns,

menos para os meus.

O tédio dos dias no adaptar-se ao sistema.

O receio de ser descoberto e estragar tudo.

Passarão séculos até que tenham suas próprias torres e muito mais ainda até

que conheçam o seu interior.

Para mim, o tempo já não faz mais diferença, sei muito bem o que me espera,

digamos que adivinhei olhando os pequenos seixos de um rio muito, muito verde.

Nesse rio me equilibro numa folha de laranjeira onde predadores de batom vermelho com suas

bocas escancaradas se escondem na penumbra, esperando que eu caia.

Às vezes penso em surpreendê-los, me revelando à eles, e eu mesmo devorá-los!

Imagino o susto que não teriam?

Mas, me disseram para ser brando, pacífico com essas criaturas, tão

calmo quanto as águas desse rio verde.

Tão improvável quanto despercebido.

Só esperando o momento certo, aprendendo o que já sabemos há milênios.

Se não fosse a barreira dos mundos, a falta de um único órgão, um elemento

numa célula.

Tentativas após tentativas, sempre chegando perto, mas nunca alcançando.

Mesmo mutilado, transformado, gostaria de voltar para casa, nem que fosse

para morrer na beira de um rio radioativo muito verde com seixos que predizem

a sua morte, mas ainda assim é o seu verdadeiro lar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Calisto.

 Vejo fogo em teus olhos.

Me incendeio.

Sinto o cheiro de mulher. 

Quero almíscar ou jasmim.

Uma boca semi-aberta.

Uma porta para o desconhecido, sabor amor.

Um corpo nu, ali num canto do quarto.

Como desejo esse corpo.

Se tocar será pecado, se beijar será o que?

Se ficar só olhando serei santo.

Sinto calor, tenho febre, meu sangue parece lava.

Não quero ser santo.

Ela já me matou uma vez, há muito tempo.

Será que devo?

Eu sei que é doce, que é bom, e que tudo passa.

Menos a dor.

Meus pensamentos são seus, meu corpo é seu, minha alma é sua.

Talvez eu devesse ir embora e renascer em outro amor.

Tua beleza me seduz e teu corpo me prende em correntes invisíveis.

Como saber se realmente me ama?

Ou simplesmente me odeia?