terça-feira, 31 de maio de 2016

Fragmentos

Imagina um bando de jovens descendo o rio
Buquira num teto de Kombi, nem lembro quantas
vezes naufragamos.
Ir pro bairro do Souzas a pé, por absoluta falta de se ter o que fazer e comprar doces fiado na venda com portas duplas de madeira, com seu interior cheirando a fumo,
doces e cachaça, de frente para pracinha da igreja.
Fumar, beber escondido, uma terrível escassez de dinheiro, parece que ninguém tinha, era um consolo.
Há quarenta anos a vida era muito simples, eu já era um adolescente.
Havia também o Bataclan ou casa da luz vermelha, local que as matriarcas
da cidade odiavam, por motivos óbvios.
Figuras folclóricas e inesquecíveis, como Nhô Dito, bom camarada, muito
pobre, humilde, de um grande coração, já muito velho e sofrido naquela época.
Lampião que jogava futebol de botina... num jogo quebrou o pé de um primo meu com uma botinada, eu mesmo com toda minha magreza era zagueiro do glorioso Várzea Alegre.
Outro era o Dito Barrigudo ou Gabirú, lembro que minha avó lhe dava para beber o resto
de vinagre que ficava na forma de salada, ele adorava aquilo.
Tinha também o José Cândido ou o famoso Zé Pupú, que sonhava em ter um carro.
Isso sem contar minhas paixonites de criança, que foram milhares, lógico que eu
me apaixonava mais de uma vez pela mesma pessoa.
Uma vez botei fogo no paiol de milho do meu avô, meu cúmplice foi tio Antônio, pouca coisa mais velho que eu, eram quatorze tias e tios, minha mãe entrou no meio das
chamas e me salvou, estava para dar à luz a meu irmão caçula.
Tem também as pescarias, carnaval e pererão, bonecos gigantes feitos com balaio de bambu.
Os amores mais sérios, mais sinceros, mais bandidos e mentirosos que já existiram.
Marco esses fragmentos de memória para algum dia tornar a eles e a outros mais demoradamente,
pois fico feliz em relembrar minha adolescência, que foi muito louca, intensa, sofrida, mas
também muito divertida.

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