quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Deus mora aqui.

 O gavião passou ventando  perto de mim, estava desprevenido e puxei 

a mão que segurava  na cerca, deu um taio fundo quando passou pelo 

arame farpado.

Fiquei bravo comigo mesmo, que bosta que eu fiz!

Corri pra casa e já passei um vinagre com sal pra modo de sarar logo e parar

de sangrar.

Tinha tanto serviço pra fazer, amarrei um trapo na mão e fui assim mesmo, quem é

ou já foi da roça sabe que aqui não tem moleza .

Quando voltei pra lida, que a dor foi passando o sangramento foi parando comecei 

a prestar mais atenção no meu mundo, no meu pequeno universo aqui no sítio.

Enquanto colhia uns cacho de banana, vi as garças pescando na lagoa, como conseguem engolir

um peixe tão grande?

Tinha uma cobrinha lá no brejo, deixei ela ir embora pra comer os ratos.

O anu-preto, com seu chorinho chato atrás das vacas, nem se compara com meus canarinhos 

e pássaros pretos, são todos soltos e livres no sitio, dou quirera todo dia, mais são meus, no meu 

pensamento e no meu coração.

As galinhas são um capítulo à parte, ô bicho besta sô.

Fico triste com os tucanos e gaviões, que comem tudo que é filhote de passarinho, mas 

são bonitos os danados e precisam comer também, né!

Aqui no meu pequeno sítio eu percebo que para o mundo andar, coisas boas e coisas ruins tem

que acontecer, não sei se é a lei de Deus, mas é assim que acontece.

Eu tento ver sempre as coisas pelo lado bom.

Se é dia de sol, o céu é lindo e azul.

Se é dia de chuva, é bom para as plantas e tem aquela sopa na janta.

Se é noite estrelada, fico fascinado pensando onde Deus mora.

Minha vida tem sido assim, desde que vim pra cá, um corte na mão não me deixa triste,

a viola espera uma semana.

Minha casa é pequena, mas minha alegria e meu mundo são enormes e Deus olha 

por mim, pois descobri que ele é meu vizinho!